sábado, 12 de março de 2011

A dor é minha, a dor...


  Oi gente! Desculpem pela pausa nas atualizações. Vários amigos comentaram que muitas coisas já haviam acontecido com a baixinha e que o blog estava ficando sem notícias novas. Pois é...mas é que a mamãe coruja esgotou o  estoque mental de otimismo, serenidade e pragmatismo. 

  Explico. Do final de janeiro pra cá tive que enfrentar aquele monstrengo batizado de "depressão" no meio médico, uma doença que altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, como entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e prazer pela vida.

   De minha parte, precisamente no final de janeiro, perdi o chão...A Marina foi internada (mais uma vez...) para investigar uma disfunção respiratória que descreveram como taquipnéia, um problema que poderia estar relacionado a patologia grave e rara, considerando o histórico da minha pequena.

   Por acaso lembram que raro é uma palavrinha que não aprecio muito? Pois é, a Marina ficou em observação por dois dias na emergência pediátrica do hospital, já que a frequência respiratória dela estava muito alta.

 De imediato, descartaram-se danos ou comprometimento da oxigenação para o organismo. Ela estava com esforço respiratório maior, mas sem queda de saturação ou comprometimento para as trocas gasosas no sangue. Não me perguntem detalhes porque não li nada pra entender isso melhor. Nem quero...

   Descartamos também problema cardíaco  ou pulmonar durante a internação, e saímos com uma recomendação de pesquisa genética ,e neurológica para conectar este novo sintoma ao quebra-cabeças ainda incompleto da Marina.

   Adivinharam? Sim, corrida a médicos e laboratórios, tudo pra ontem. Em duas semanas, a Marina já havia consultado cardiologista, neurologista, geneticista, pediatra, pneumologista e otorrinolaringologista, além de ter realizado um punhado de exames para avaliação rigorosa do novo sintoma.

   Depois de várias idas e vindas, sem qualquer evidência maior, a não ser uma inexpressiva falha no septo interatrial (CIA ostium secundum), sobrou uma suspeita que poderia explicar a respiração acelaridinha dela: uma obstrução nas vias respiratórias, quem sabe até um "calinho" no ponto onde realizada a cirurgia da malácia. Noutro tópico explico isso melhor.

   Onde eu parei? Ah, sim...a minha cabeça, que há tempos já estava apitando e soltando fumacinha como panela de pressão, passou do ponto e explodiu...O Rafa  bem que avisou que eu deveria cuidar a hora de "desligar", mas eu não quis ouvir. 

   Resultado: tive que que fazer uma faxina mental, dispensar o que se perdeu na explosão, recuperar o que se danificou, começar de novo a "receita" da vida, aprendendo a conhecer melhor o "tempo" da pressão pra cada situação vivida. 

   O importante mesmo, e o que quero dividir com vocês como resultado desta experiência, é que ninguém conhece a nossa dor e os nossos limites melhor do que nós mesmos. Então a primeira coisa a fazer é não comparar. 



   Sim, o sofrimento  da  Maria é gigante porque o filho dela tem tumor cerebral. Sim, o João é viciado em crack e abandonou a família. Sim, a Janaína sofreu um acidente, amputou uma perna e jamais vai poder ser a bailarina que sempre sonhou...

  Sim, todos nós conhecemos alguma história com dificuldades, algumas maiores, outras menores do que as nossas próprias. Mas vejam, a minha dor é só minha e dela não devo descuidar, porque a minha reação é única e os meus limites não são os mesmos que os seus, que os do João, que os da Maria ou  da Janaína.

   Digo isso porque no curso de minha neófita vida conheci muitas, muitas histórias tristes, e nunca me dei espaço para sentir inteiramente a dor de minhas próprias dores, pensando que já vira tantas situações mais difíceis, enfrentadas sempre de forma aguerrida por pessoas de carne e osso, que parecia ser um insulto me curvar aos meus problemas.

   Pois agora tenho consciência de que não, não há nada de errado em cuidar de si, da dor que se sente, funda ou rasa, apunhalada ou cortante, consciente ou errante. Importante é conhecê-la, na velocidade que nossa curiosa mente permitir, pra daí dimensionar a dor e apaziguá-la em nosso espírito, permitindo que possa entrar, então, a felicidade. 

    Fosse uma dor de amor, eu cantaria "aos outros eu devolvo a dó...eu tenho a minha dor", como fez poética e docemente a Marisa Monte, em De Mais Ninguém. Mas como entraram em cena indagações diversas sobre meus papéis (de mãe, de esposa, de profissional, de mulher), não consigo ser sintética e diretiva sobre essas veredas que percorro hoje, mas posso assegurar que estou a destino da felicidade.

    O poeta mineiro Emílio Moura, a propósito, é citação perfeita para o tema, quando afirma que dói realmente é a vida que não se vive! Deixo a poesia dele abaixo e a reflexão bem apanhada do Prof. Dr. João Luís de Almeida Machado no link.

"Canções
Viver nao dói. O que dói é a vida que se não vive. Tanto mais bela sonhada, quanto mais triste perdida. Viver não dói. O que dói é o tempo, essa força onírica em que se criam os mitos que o próprio tempo devora. Viver não dói. O que dói é essa estranha lucidez, misto de fome e de sede com que tudo devoramos. Viver não dói. O que dói, ferindo fundo, ferindo, é a distância infinita entre a vida que se pensa e o pensamento vivido. Que tudo o mais é perdido." 



  Assim, queridos leitores, voltamos pra ficar! Aguardem as próximas postagens!

3 comentários:

  1. Nunca comentei, mas acompanho o blog. Que ótimo voltar a ter notícias da tua pequena!
    Espero que tudo corra bem e que apareçam e se encaixem todas as peças do quebra-cabeças.
    Muita força pra vocês três =)

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  2. Se puderem deixar assinatura, cidade e Estado nos comentários, agradeço imensamente!
    Mamãe coruja.

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  3. Ups, esqueci de assinar =D
    Luciana Brusco, porto-alegrense de nascimento, atual moradora de Hürth, Renânia do Norte-Vestfália, na Alemanha

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