Minha percepção é que
vivemos essas conexões como numa grande colcha de patchwork. Algumas pessoas
passam por nós e deixam fundas marcas, outras suaves, algumas nem tanto...
Certo é que todas elas, sem dúvida, desenham e configuram uma forma única, como
aquelas colchas artesanais, onde os tecidos, os pontos, os coloridos,
alimentam-se da passagem de cada novo indivíduo para temperar com cor, forma e textura,
a história única arrematada pelas mãos do artesão.
Eu cheguei na minha aula
da noite pensando nisso. Aliás, mais do que isso, vinha eu pensando na lacuna
que havia deixado em minha “colcha” virtual, o blog que dediquei à minha filha.
Dani havia me dito que eu
não tinha a mínima ideia de quantas pessoas acompanhavam nossa história. Tia
Ana, dias atrás, também me perguntou sobre as atualizações. Falou da Iola
(Iolanda, mãe da Bia, minha amadinha), que lá de longe ficava mais perto de
nossos passos.
Com essas coisas em mente,
fui aprender um pouco mais sobre coordenação motora, equilíbrio, senso de
espaço, entre outras questões de teor menos técnico, como voltar a rir de mim
mesma pra me sentir melhor.
No meio da aula, um
comentário inocente sobre a chuva me chamou a atenção. Nada demais, em
princípio, já que a turma é de gente muito divertida e acolhedora. Um dos
colegas da turma mencionou algo como: “hoje
me sinto como o dia chuvoso lá fora...”
Lembrei de Nik Wallenda, que em junho deste ano se
tornou o primeiro homem, após quase 120 anos, a andar sobre as cataratas de
Niágara, na fronteira do Canadá com os Estados Unidos, equilibrando-se sobre um
cabo. Segundo os noticiários, Wallenda, de apenas 33 anos, foi o primeiro na
história a fazer a travessia bem em cima das quedas d’água.
As imagens divulgadas
simultaneamente à travessia, davam impressão de que o equilibrista atravessava
uma chuva fortíssima e turva, algo nada divertido, à primeira vista.
Mas o equilibrista, que se
conectava aos milhares de espectadores por um fone, dizia estar tomado
por uma sensação de paz, concluindo para todos que o assistiam: “É uma visão inacreditável. Isso é realmente
de tirar o fôlego.”
Esses pensamentos juntos
me fizeram quebrar o silêncio.
Tempos atrás comecei, por várias vezes, um
texto que tratava da sensação que eu tinha ao caminhar com minha filha na rua e
da forma como gostaria de ser vista. Esse deveria ser o texto inaugural da
volta pra casa.
O que queria dizer e não
conseguia, mas agora está claro, é que não importa as dificuldades que passamos
em nossas vidas. Não é isso que importa!
Importa é a perspectiva
que temos quanto a essas situações vividas. E confesso que demorei para me
convencer de que seria capaz de dizer algo motivador, por uma razão muito
simples: eu não me sentia motivada, ora essas!
Eu só enxergava a chuva, a
névoa, o tom gris das nuvens cheias da iminente precipitação. Eu mesma me
sentia uma nuvem à beira de uma chuva de lágrimas!
Pois bem. Ouvindo o
inocente comentário desta noite, percebi claramente que isso mudou. Mudou
porque se por um momento pensei que um tsunami me carregou para longe dos meus
sonhos, deixando apenas a visão dos escombros, nos momentos subsequentes eu
percebi, talvez não tão rápida como a invejável nação japonesa — foram apenas
poucos meses para restabelecer estradas, pontes, viadutos, edifícios, em meio a
milhões de toneladas de entulho! —, que eu poderia simplesmente tirar o foco
dos escombros e olhar para a vida por uma perspectiva mais ampla, como aquela
de Wallenda.
Certamente posso, agora,
dizer que quase todos os dias vivo ao lado de Marina experiências de tirar o
fôlego, mas a visão que ela me dá desta nova vida, desde então, é uma visão
inacreditável!
O mais incrível: ela só
tem dois anos. Como eu poderia imaginar que uma criança poderia marcar tão
profundamente minha vida? E mais que isso: fazer perceber a chuva como quem
sente o as gotas d'água soprando à beira de uma enorme e prazerosa catarata?
Isso realmente é de tirar
o fôlego. Isso é realmente inacreditável...Mas é possível, tanto que está
acontecendo, e é a razão para quebrar o silêncio hoje.
Minha filha, Marina, é uma
criança com múltiplas deficiências hoje, mas acima de tudo, é uma CRIANÇA, é
alguém que ama e é amada incondicionalmente, é alguém que semeia o amor entre seus
pais, avós, tios, tias, dindos, amigos.
Assim, queridos visitantes deste blog,
preciso dizer que só tenho amadurecido ao lado desta criança. Às vezes docemente, às vezes muito duramente, mas a maturidade é assim mesmo, vem aos poucos,
e com diversas nuances.
A perspectiva que fica, e
isso é o que importa, é entender o que minha criança precisa, não porque ela é
pessoa com deficiência, mas simplesmente porque ela é PESSOA, com sentimentos,
com sentidos, com todas as expectativas que qualquer um de nós tem de que o mundo nos receba de braços
abertos, principalmente pelas pessoas que tanto amamos.
Assim, que venha 2012 com toda a força!
Da sempre apaixonada,
Mamãe coruja.
Da sempre apaixonada,
Mamãe coruja.
Érika querida, dentre outros tantos que acompanham esse turbilhão de emoções e aprendizagem, te desejo todo o amor que a vida pode te dar. Sempre fostes extremamente amável e carinhosa com todos os amigos a tua volta e talvez justamente por essa incrível capacidade Deus tenha te dado essa tarefa de poder amar tanto assim esse ser tão pequeno ainda, mas tão batalhador que e a Marina. Se não estamos direto ligando e pq muitas vezes o receio de incomodar seja maior, mas estamos em pensamento contigo, sem falar dos pedidos aos céus que vcs tenham forças e bênçãos nessa luta diária. não esqueça que Deus da as crianças especiais, mães especiais. Bj grande e mesmo distante, sabes que pode contar comigo. Karin
ResponderExcluirOlhos marejados, evidentemente...Hoje olhei TODAS as nossas fotos, revisitei o passado, e realmente sei que relembrei momentos especiais vividos ao lado de vocês, amigas. Obrigada, sempre e sempre, pelo carinho.
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